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18/10/2021 - Webinar APM/AMB aborda novas diretrizes da Medicina nos Estados Unidos

Para apresentar as inovações e perspectivas sobre a área médica norte-americana que podem impactar outros países do mundo, o último webinar da Associação Paulista de Medicina e Associação Médica Brasileira, no dia 13 de outubro, contou com a participação de médicos brasileiros que atuam nos Estados Unidos. A Clínica Mayo, organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos e de pesquisas médico-hospitalares, fundada em 1889, foi usada como referência durante a troca de experiências.

 

 

O diretor médico para as Américas e presidente do Subcomitê de Atividades Internacionais da Mayo Clinic Florida, Jorge Pascual, sintetizou o surgimento da instituição, em Rochester, até se tornar hoje o centro médico mais importante dos Estados Unidos. “A Mayo Clinic também possui uma visão internacional de mandar médicos para aprender em outros lugares e trazer profissionais de outros países para aprender conosco. Em 1986, abriu uma clínica na Flórida e, em 1987, no Arizona. São mais ou menos similares em termos de idade e tamanho”, informa.

Com três campi principais em Rochester, Minnesota; Jacksonville, Flórida; e Phoenix/ Scottsdale, Arizona, possui mais de quatro mil médicos e cientistas, além de 50.000 profissionais de Saúde e funcionários administrativos. Por ano, um milhão de pacientes são atendidos pelo sistema. Todas as clínicas são conectadas com o mesmo prontuário médico eletrônico, reuniões de departamentos integrados, que compartilham informações e discussões regulares com colegas especialistas, para atender as necessidades específicas de cada paciente. Possui ainda o maior grupo de especialistas em doenças raras.

No entanto, a população está envelhecendo e carece cada vez mais de cuidados médicos. “Todos os hospitais dos Estados Unidos têm se concentrado em quatro propósitos: diminuir custos, não afetar a qualidade e segurança dos pacientes, manter uma boa experiência e os pacientes se sentirem satisfeitos com os serviços prestados. Outro aspecto importante é que os pacientes estão cada vez mais espertos com conhecimento e cultura. Eles procuram os hospitais com menos infecções hospitalares e mortalidades, melhores resultados e mais baratos. Agora, são eles que escolhem os médicos que querem ver”, destaca Pascual.

 

Plano até 2030

A cada 10 anos, a Clínica Mayo estipula um plano diretor com metas de transformação. De 2020 a 2030, os esforços estão concentrados nas mudanças do mercado com foco em cura, conexão e transformação. Pascual explica que a cura (inovação), além de desenvolver novas drogas e métodos cirúrgicos, tem como foco pensar em uma Medicina individualizada, levando em consideração as informações de genoma e de metabolismo do paciente.  

“Por exemplo, ao entender a sua genética, podemos escolher a droga específica para aquela doença. A Medicina individualizada muda a forma de tratar o doente, não com o foco apenas na doença”, explica. Nesse tópico, leva-se em consideração ainda os avanços em Medicina regenerativa, com os estudos de células-tronco e terapia com moléculas maiores, o carbono. Já a conexão diz respeito aos pacientes entre si, aos médicos e pacientes e médicos entre si.

Como o custo de hospitalização é oneroso nos Estados Unidos, os pacientes estão cada vez mais sendo tratados em seus lares, com alguns monitores cardíacos e de oximetria, para criar um ambiente em casa similar aos cuidados hospitalares. E hotel-hospital, onde se hospeda por uma noite, por exemplo, para a recuperação.

“Um estudo de 2014 aponta que para os pacientes que ficam em casa, os tratamentos duram três dias. Para os que estão em hospitais, o período de tratamento dura 5 dias. Conseguimos fazer o primeiro transplante de medula óssea com o paciente em casa. Então, é um grau de sofisticação que tende a crescer. Eles se sentem seguros e felizes por estarem com a família e reduzimos os custos no tratamento”, acrescenta.

Por fim, a transformação engloba a quantidade de informações e a criação de plataformas prezando pelos dados sigilosos, segurança do paciente e inteligência artificial, que contribuem para o desenvolvimento de tratamentos específicos. “A Mayo sempre foi ativa no sentido de mandar e receber médicos e pacientes internacionais, com diversas atividades no exterior, escritórios para ajudar o paciente a marcar consultas, hospitais filiados com acesso à informação, consulta eletrônica, consultoria, clínicas, hospital sócio em Dubai, clínica pequena em Londres e laboratórios em diversos lugares”, pontua o diretor.

Hoje a clínica, reforça, pensa em uma mudança de atitude até 2030 no sentido de estabelecer vínculos com hospitais e centros em outros países, não só em vender informação e passar inteligência para aderir sócios.

“Podemos trazer tecnologias para o País. Conversamos com alguns países de como eles podem aumentar o diagnóstico de câncer, melhorar a radiologia, isso está muito mais próximo de colaborações comerciais, com marcas, não restringindo apenas ao conhecimento, porque à medida que aprendemos com outros lugares, conseguimos melhorar o ciclo de inovações e desenvolver produtos”, reforça.

 

Oferta e demanda de médicos

Em seguida, o professor assistente de Anestesiologia da Faculdade de Medicina e Ciência e consultor do Departamento de Anestesiologia e Medicina Perioperatória da Mayo Clinic Florida, Eduardo Rodrigues, apresentou um estudo sobre a projeção de médicos até 2034. O estudo foi elaborado pelo American Association Medical Colleges, instituição fundada em 1876 em Washington, dedicada à transformação educacional, aos cuidados, à pesquisa, à comunidade e às colaborações na área médica. É responsável pela aplicação de testes para a admissão em escolas de Medicina e programas de residência.

Com relação ao modelo de oferta de médico existente nos Estados Unidos, com base em informações coletadas da Associação Americana de Médicos, em 2019, 808.400 profissionais em atividade tinham menos de 75 anos.

Em relação à ocupação, 228.700 (28%) atendem na assistência primária, 33.300 (4%) na assistência primária hospitalar, 137.900 (17%) em especialidades, 152.700 (19%) em especialidades cirúrgicas e 225.800 (32%) em outras diversas especialidades. As mulheres compõem 1/3 da força de trabalho.

Até 2034, os estudos de projeção também apontam um crescimento rápido da população idosa. “Temos basicamente um aumento absoluto de 10% em todas as áreas médicas (cuidado primário, especialidades clínicas, cirúrgicas e hospitalares) de demanda populacional acima de 65 anos. É quando uma pessoa vira basicamente um doente público e o reembolso é uma fração do doente de convênio normal. Os hospitais, em geral, têm dificuldades financeiras devido a esses reembolsos e custos, que tendem a aumentar”, comenta Rodrigues.

A pandemia de Covid-19 evidenciou e potencializou o problema de cansaço excessivo, físico e mental, do médico - e que pode se potencializar, segundo Rodrigues, nos próximos 13 anos, a depender ainda da Economia. “A oferta de médico também poderá variar, por exemplo, se eles resolverem se aposentar dois anos mais tarde, pois teremos mais profissionais. Ou, se houver aumento nas vagas de residência, a oferta de médicos também claramente aumenta. Mas, a projeção aponta uma falta entre 37.800 e 124 mil.”

Ainda sobre a pandemia, ele enfatiza: “Não sabemos ainda o impacto da Covid-19 ao longo do tempo. Também temos de pensar na diversidade e inclusão nas áreas de liderança, porque ainda falta qualidade nessa área. É importante pensarmos porque, demográfica e etnicamente, o país tem se transformado”, acrescenta.

Ele ainda falou de empresas que estão entrando agressivamente no sistema de Saúde, como a Amazon Care, que já oferece sistema de saúde em vários lugares do país, 24 horas e 365 dias por ano.

 

Percepções

O evento foi apresentado pelos presidentes da APM, José Luiz Gomes do Amaral, e da AMB, César Eduardo Fernandes, com moderação do diretor de Relações Internacionais da AMB, Carlos Vicente Serrano Junior.

“Às vezes, vemos a Medicina como uma atividade, um campo do conhecimento que oscila em ciclos que eventualmente se repetem. Os hospitais foram uma inovação da Idade Média. No início, esses lugares eram destinados às pessoas que tinham uma necessidade específica ou que estavam em trânsito. Agora, estamos fazendo uma inovação às avessas. Na verdade, estamos concentrando a expertise médica que chega em vários domicílios, quase que automaticamente, a partir da Saúde Digital e Telemedicina. Penso que isso não vai atrapalhar essa relação médico-paciente, mas algo que pode nos atrapalhar é começarmos a atender o paciente como consumidor. Outra tendência, mencionada pelo Jorge, é que queremos não mais tratar doenças, e sim doentes”, reflete Amaral.

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