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25/05/2017 - XI CPN: “É preciso tratar o paciente, não somente o exame”

José Biller, conferencista internacional dos EUA, abriu o segundo dia do Congresso falando da relação entre gravidez e AVCs

A manhã de palestras do dia 25 teve início com a conferência internacional “Acidente Vascular Cerebral na Gravidez: Isquêmico e Hemorrágico”, ministrada por José Biller. O estadunidense, uma das maiores autoridades mundiais no campo das doenças cerebrovasculares, é professor de Neurologia e Cirurgia Neurológica, além de presidente do Departamento de Neurologia da Universidade Loyola de Chicago, Stritch School of Medicine.

“É sempre um prazer estar com meus colegas no Brasil. A minha apresentação hoje falará dos problemas que podemos encontrar cuidando de pacientes que estão grávidas e apresentam acidentes vasculares cerebrais (AVCs)”, iniciou. Para ele, há várias perguntas que são frequentemente feitas pelos médicos, colegas e pacientes. O intuito da explanação foi ilustrar algumas dessas questões, passando exemplos da prática de Biller, visando gerar um entendimento melhor deste complexo problema.

“Precisamos investigar os sintomas de pacientes grávidas e a administração dos medicamentos. Sabemos que os riscos de AVCs isquêmicos e hemorrágicos aumentam particularmente no período pós-parto, não exatamente durante a gravidez. As seis semanas depois do nascimento da criança formam o período crítico, de máximo risco para a paciente. Mas também sabemos que o AVC isquêmico não é contraindicação para gravidez subsequente”, afirmou.

Falando sobre as mudanças fisiológicas que ocorrem na gravidez, Biller apresentou alguns dados como a pressão sanguínea caindo entre 10% e 20%; a queda de 10% da pressão diastólica; e a aceleração do ritmo cardíaco em até 20%; além do aumento do volume de plasma. “Isso explica por que algumas dessas pacientes podem ter uma complicação. É um fenômeno fisiológico, não patológico. Algumas mulheres, por exemplo, podem ter edema de extremidade. Isso reflete em hiperatividade, mas não em clônus.”

O especialista – que também é editor do Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases e chefe-editor da Frontiers in Neurology – perguntou aos presentes: “O que nós sabemos sobre a questão dos AVCs com gravidez?” Levando em conta, explicou, que muitas mulheres estão ficando grávidas em idades mais avançadas que no passado, há causas principais relacionadas ao problema. “Como a pré-eclâmpsia, o embolismo do fluído amniótico, a cardiomiopatia periparto e a angiopatia pós-parto”, exemplificou.

Biller falou sobre a doença cardiovascular reumática, comum entre mulheres jovens de países em desenvolvimento, com estimativas de mais de 15 milhões de pessoas atingidas no mundo. “Não é incomum que essas pacientes sintam os sintomas durante a gravidez. Mais comumente no 3º trimestre. É importante saber que a mulher deve ser tratada profilaticamente contra a faringite estreptocócica”, disse.

Como curiosidade, o especialista apresentou um dado curioso: a Nigéria mantém uma alta taxa de cardiomiopatia periparto. Ao conversar com locais, ele descobriu que, após o parto, as mulheres – por questões culturais – fazem dietas com muito sal, aumentando os riscos.

“Precisamos prestar atenção em outras questões, por exemplo a embolia do fluido amniótico decorrente do colapso cardiovascular e a embolia venosa relacionada ao sopro no coração. Já a trombofilia pode ser adquirida hereditariamente e sabemos que a gravidez é um estado trombofílico. Falo para meus pacientes que os registros médicos eletrônicos e os avanços da tecnologia, nos quais um aperto de botão envolve milhões de dólares, podem misturar tudo. Mas é preciso fazer os exames certos.”

Biller considera essencial que o médico trate o paciente, não o heredograma, o exame, a ressonância. Ele disse isso ao apresentar um caso clínico em que não era capaz de entender as condições que levaram uma paciente a ter uma doença vascular que afetasse somente a parte extracraniana. Ao reconstituir o parto, ele descobriu que a hipertensão do pescoço – por conta da posição em que foi realizado o procedimento – influenciou na doença.

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